'Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.'

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Aprender a prender.

Ouvia-se falar num paralisador de almas prestes a voar.
Acreditava-se ser possível que algo invisível segurasse pernas e braços tão bem quanto, talvez até melhor, que algemas e correntes.
Sabia-se que todas as casas do lugar eram trancadas a chave - possível invasão, algo precioso poderia ser levado por alguém que não saberia seu valor.
Entendia-se que os botões das camisas não estavam ali por vaidade, mas porque precisavam segurar o tecido que enrolava o corpo. Ela levava suas mãos a eles de tempos em tempos para conferir.
'e se eles se desprendessem do pano? E se eles não suportassem a força daquilo que vinha crescendo dentro do peito e explodissem em um descontrole que mil braços não seriam capazes de conter?'
Então se via que ela coçava a barriga com os cotovelos, mãos atadas, roçava os calcanhares no chão, pés atados, olhava para trás, para cima, para os lados. Seus braços e pernas, apesar dos ferros, estavam livres. Seu pensamento, apesar de todas as direções, não.
'É o me doar. É o me doer. É o medo.'
Não voou.