'Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.'

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Carta I

lá se vão três dias e continuo tentando transferir as horas esperadas pra parte passada do hoje, jogando os segundos do futuro pro porta malas, engatando uma primeira, acelerando, indo pra frente e rápido. tenho pressa.
me disseram: diminua o ritmo. respire. mas respire fundo. desse jeito tu vai acabar ficando doente.
mas hoje eu vi que não é só comigo, não só eu piso fundo no desespero e me encho de engano pra tentar focar a vida numa direção que não é a que ela quer seguir. agarro a cara da minha vida a unhas pintadas de saliva e esclareço: tu é minha e eu faço contigo o que eu quiser. se eu quiser que seja assim, vai ser assim. questão de propriedade, me deram você, eu te controlo, eu.
então acho que a vida é frágil, acho que ela acredita mesmo que eu direciono o guidom. acho que todos os meus planos vão dar certo, acho que todo o mundo me ama, acho que todos estão satisfeitos com o meu trabalho, com os meus abraços, com meu arroz queimado na panela.
mas frágil a vida não é, frágil eu sou.
fecho o livro. 'te notei meio nervosa hoje, tu foi tão bem no inicio, aconteceu alguma coisa?'. atropelei. atropelei tudo. atropelei as palavras. atropelei os passos. atropelei alguém na minha ânsia de chegar logo. andei de ré, arranquei espelhos, furei sinais pensando em como tinha sido teu dia. será que tu conseguiu arrumar teu cabelo pro lado, daquele jeito? estava tão linda. será que almoçou direito? tu sempre come correndo, e geralmente bobagem... será que escovou os dentes ou passou a tarde com aquele gosto amargo na boca e mascou um trident pra disfarçar? será que pensou no que eu estaria fazendo quando sentou no sofá, pegou o controle da tv, trocou de canais e parou num enquanto passava aquele comercial idiota de liquidação total, 'é amanhã, 50% de desconto, sem entrada, 10x sem juros'?
sem juros, sem danos, sem prejuízos.
será que eles me venderiam um controle remoto?
só o controle?
só!
ou me vendem.
quero cegar.
perguntas. tem formspring.me? queria saber tanta coisa que não tenho coragem de perguntar a não ser pra mim mesma - e ainda fico inventando respostas. respondo por ti. te respondo pra mim. finjo que te sou. um beijo, boa noite.