'Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.'

terça-feira, 9 de março de 2010

Releitura IV

"(Mustapha Mond franziu a testa. "O imbecil estará pensando que sou tão suscetível que não posso ver a palavra escrita com todas as letras?")."

Passa carro, bicicleta, menino, menina... Cada um com suas peças. Amassa o carro, ele anda. Arranha a bicicleta, ainda dá pra pedalar. Arranha o menino, arranha a menina, arderá, mas continuarão a caminhar.

Tira a porta do carro, ele anda. Tira o freio da bicicleta, ainda dá pra pedalar. Tira um olho do menino, tira um rim da menina... Doerá, virá a fase de adaptação, mas continuarão a caminhar.

Tira a bateria do carro, ele não anda. Tira o pedal da bicicleta, não dá mais pra pedalar. Tira todo o sangue do menino, tira o coração da menina. Eles não sentirão falta. Não sentirão. Nem saberão.

Não sou tão suscetível, mas sou. Há o que me comova, mas não me transforme. Há o que me confronte e, consequentemente, me transforme. Há também o que apareça para me matar. Não sentirei falta, não sentirei, não saberei quando encontrar o que vem com essa missão e além. Por enquanto ainda sinto, ainda vivo, ainda posso ler todas as letras.

Te escreverei enquanto ainda puderes ler. Escreva-me enquanto eu ainda puder ler. Te visitarei enquanto ainda tiveres casa. Visite-me enquanto eu ainda tiver casa. Te abraçarei enquanto ainda tiveres corpo. Abrace-me enquanto eu ainda tiver corpo. Te ligarei enquanto ainda tiveres telefone. Ligue-me enquanto eu ainda tiver telefone.

Amanhã quem vai sentir falta? Quem vai sentir? Quem vai saber? Quem ainda estará suscetível? Quero estar. Quero as peças em harmonia, quero todas as peças, todos os botões. Não quero mau contato. Nem na bateria com o restante do carro, nem no pedal com a corrente da bicicleta, nem no coração com o resto do corpo. Quero o contato inteiro ou a retirada dos fios. Quero o pulso ou