'Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.'

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Releitura I

Hoje me percebi sentindo profundamente o que não podia ver.
No rosto os tapas, no ouvido os ruídos do vento que explodia pela janela do carro com tanta força que apertava o óculos contra minha face, deixando marcas.
Os olhos não conseguiam abrir completamente, sua existência se confirmava mais do que qualquer coisa que eu pudesse ver. Encheu meus cabelos de nós, espalhou mechas pro lado de fora e pros olhos de quem sentava ao meu lado [apesar de ele não estar mais comprido].
Como o vento, às vezes não te vejo...
Outras, és só o que consigo ver.
Ouço teus barulhos. Abro as janelas para que me apertes e deixes marcas que só eu sei onde estão. Bagunças meus cabelos.
Como pode isso tudo, que não tem forma específica, nem cores, nem nada, me encher de nós e espalhar partes de mim por aí? Paralisar enquanto tenho que seguir andando, engolindo, pulsando...
Embora a manivela da janela continuasse ali, negra, ao alcance dos dedos, eu preferi o vento.
Arrancar os vidros, as molduras, deixar o ar entrar.
Encher os pulmões desse perfume aveludado que acaricia meu coração e chega a dar vida às moléculas que correm apressadas pro meu lado.
Pra dentro de mim.
Que me tocam quando o telefone toca.
Vou tragar essa ventania... Quebrar o silêncio típico de quem não sabe o que fazer com tantas músicas e poesias que passeam pela mente enquanto as palavras não ditas fogem pelos poros - como se virassem inimigas ao te ver.